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Pesquisando o Cerrado, brasileira passa em doutorado nos EUA e faz campanha virtual para cobrir despesas

Isabela Castro acredita na ciência brasileira e o Brasil acredita nela como cientista. Fruto do solo fértil da educação pública brasileira, ela pesquisa o Cerrado desde o início da graduação, há 8 anos. Agora, se prepara para um novo passo: conquistou bolsa para fazer doutorado nos Estados Unidos e dar sequência a um trabalho cujo objetivo final é contribuir para a preservação do bioma que ama. Em apenas dois dias, uma campanha criada por ela na plataforma Vakinha arrecadou todo o valor necessário para cobrir os primeiros gastos que a estudante terá no novo país. A campanha ainda pode receber contribuições através do link.

Isabela tem 26 anos e é moradora de Gama (DF). Ela se formou em biologia e se tornou mestre em ecologia pela Universidade de Brasília (UnB), com um estudo sobre o bioma Cerrado. Foi com um projeto para desenvolver ainda mais essa pesquisa que ela conquistou aprovação no doutorado da Case Western Reserve University, em Ohio (EUA).

“Eu vejo o Cerrado como a minha casa, e estudo ele desde que entrei na graduação, há 8 anos. Esse é o segundo maior bioma do nosso país e é uma das savanas mais biodiversas do mundo. Temos aproximadamente 13 mil espécies de plantas ocorrendo aqui, fora a diversidade de animais, fungos e microorganismos. Além de abrigar essa biodiversidade, o Cerrado funciona como uma “caixa d’água”, abastecendo diversas bacias hidrográficas. Apesar de ser muito importante, esse bioma já perdeu metade da sua cobertura nativa, o que coloca em risco o provimento de serviços ecossistêmicos, a segurança hídrica e a biodiversidade”, disserta, destacando que escolheu ampliar os conhecimentos sobre o Cerrado com o intuito de contribuir para a preservação do bioma.

 

Com a aprovação na universidade estadunidense, Isabela terá o custo de vida coberto, mas, até lá, precisará levantar montante que supra gastos como passagens aéreas e visto, além de despesas corriqueiras, tendo em vista que a primeira parcela da bolsa deverá ser paga apenas em 45 dias.

A brasileira já havia conseguido juntar boa parte desse valor, mas ainda faltavam cerca de R$ 5 mil para que ela tivesse segurança nesse período de transição. Por isso, optou pela criação da campanha virtual – uma decisão que mostrou-se acertada, tendo em vista que, em menos de 3 dias, a meta já havia sido ultrapassada. Até o momento, R$ 6,8 mil foram arrecadados, através de 98 apoios que vieram de familiaes, amigos, colegas e demais pessoas empáticas à história.

Eu achei que somente amigos e familiares iriam contribuir, mas não foi o que aconteceu, já que boa parte das pessoas que doaram não me conhecem! Essa corrente do bem que se espalhou me deu muita força, porque além da ajuda financeira eu recebi muitas mensagens de apoio e motivação. Me emocionei muito com a quantidade de pessoas compartilhando a vaquinha e torcendo pra que tudo desse certo. Foi muito importante pra mim receber essa força”, celebra.

A ida de Isabela para os Estados Unidos é importante em um contexto macro, o da preservação do Cerrado, mas também tem relevância tão singela quanto significativa: a de uma mulher brasileira, cuja geração é a primeira da família a cursar uma faculdade, conquistando a chave para transformar sua vida.

Uma conquista que é dela, mas também dos pais, que nunca pouparam esforços para garantir a ela a tranquilidade para traçar esse caminho. É dela e tantos estudantes que precisam equilibrar estudos e trabalho no cotidiano brasileiro.

O meu pai, por exemplo, vendia din-din na porta da escola pra ajudar dentro de casa na sua adolescência. Mas ele nunca desistiu e conseguiu terminar o ensino médio, mesmo com tantas adversidades. Através da educação eu já transformei a nossa realidade, já que posso vir a ocupar cargos e conseguir um emprego que, sem a minha formação, eu não poderia. Pra mim, estudar foi uma questão de resistência e empoderamento. Mas eu não conseguiria ter chegado até aqui sem o trabalho árduo dos meus pais e da educação pública e de qualidade. Além disso, o apoio e as oportunidades que me foram dadas por professores e outras pessoas foi de extrema importância, destaca a estudante.

Por fim, Isabela deixa um recado válido tanto para os estudantes brasileiros, quanto para o público em geral que se sensibilizou com a história e contribuiu com a campanha: “Eu escolhi ser pesquisadora porque eu acredito no potencial da ciência brasileira, na nossa capacidade de desenvolver tecnologias, de mitigar impactos ambientais, e também porque eu amo entender como a natureza funciona. É onde meu olho brilha. Eu gostaria de agradecer a todas as pessoas que me ajudaram de alguma forma nesse processo. Seja doando, compartilhando, deixando palavras de suporte ou torcendo. Vocês me deram mais que um “empurrãozinho”, como eu pedi na campanha. Vocês me deram as mãos.”