Principalmente com a inserção nos Jogos Olímpicos, o skate se tornou um esporte prazeroso de se assistir, esteticamente interessante e um lazer acessível. Mas é interessante também perceber como ele pode ser uma importante ferramenta de cidadania, pelos afetos criados principalmente com as periferias das cidades. Na cidade paulista de Poá, o projeto Social Skate aposta nessa potência para transformar a vida de milhares de jovens.
A iniciativa atuou por 10 anos dentro da Fundação Casa, trabalhando com adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. Em 2011, com o objetivo de trabalhar de forma preventiva, o projeto foi recriado como uma Organização Não Governamental (ONG). O foco, desde então, tem sido contribuir positivamente na vida de pessoas de 6 a 16 anos.
Criada por Sandro Testinha e Leila Santos, a associação oferece, dentro de proposta interdisciplinar, atividades voltadas ao esporte, à educação, à cultura e ao lazer. Mais de 1.000 jovens já passaram por lá e, atualmente, fazem parte 150. O projeto conta com patrocínio de empresas nacionais e internacionais como a Nike, a Centauro e a Vans.
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Skatista há 33 anos, Sandro Testinha acredita que a palavra “acesso” define aquilo que a Social Skate traz de mais positivo às meninas e aos meninos atendidos. “São jovens em situações de riscos. No plural porque os riscos são muitos. Então o nosso foco é na reinserção dessa garotada. Ensiná-los a respeitar as diferenças, utilizar o esporte para fortalecer vínculos. E entregar aquilo que dificilmente terão do estado e muito menos da iniciativa privada.”
Além das aulas de skate, ministradas diariamente, os alunos são envolvidos em atividades educacionais e culturais. E além deles, mães e pais também são abraçados, com aulas de dança e música que valorizam produções nacionais. Por fim, recentemente um lixão localizado próximo à sede do projeto foi ressignificado como uma horta comunitária.
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“Não é fácil vir de uma família desestruturada e precisar da disciplina que cobramos aqui. Então ao romper esse processo inicial da matrícula e dos documentos, já começamos a reeducar essa criança”, comenta Testinha, com orgulho do trabalho construído até aqui. “A gente entende que daqui a algum tempo vai compreender a importância disso. Desse legado positivo na vida deles.”
Testinha crê, entretanto, que ainda existe um caminho para que a sociedade amadureça em relação ao potencial transformador do skate. Estar nos Jogos Olímpicos ajuda, claro, mas falta ainda entender que todo grande atleta, nesse esporte, começou andando solto por aí. “A Rayssa (Leal) hoje está no mundo todo, ganhando medalhas, mas ela ficou conhecida fazendo manobra na escada de um comércio. E se hoje alguém anda em um local assim, ainda tem a chance de ser expulso. As pessoas precisam entender que aquilo que está na TV começou nas ruas.”