O teatro é mágico, transformador, revolucionário. Mexe com o corpo, a mente e a sociedade. É ele a ferramenta que o projeto Nóis de Teatro utiliza, há duas décadas, para criar vivências e sobrevivências em Fortaleza. Para 2024, a ideia é fortalecer o viés educacional da iniciativa, com mais uma edição da Escola de Teatros Periféricos.
O Nóis de Teatro existe há 21 anos, utilizando como base do trabalho as vivências e questões dos habitantes de Granja Portugal, na periferia da capital cearense. “Somos em maioria pessoas pretas, periféricas e LGBTQIAPN+, então o nosso fazer perpassa pela forma que a cidade visualiza e interage com os nossos corpos, nas construções de relações e nas criações de possibilidades de sobrevivência dos nossos na cidade. Cidadania é poder ocupar a cidade e toda a sua potência sem medo ou receio”, explica o jornalista e ator Henrique Gonzaga, coordenador do projeto.
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No repertório do grupo estão atualmente montagens como Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro, Despejadas, Ainda Vivas e Desterro. Ainda, são desenvolvidas na sede atividades abertas ao público como um sarau onde artistas de diferentes comunidades fortalezenses são convidados a compartilhar poemas, cenas, performances e o que mais interessar. Por fim, existe a Escola de Teatros Periféricos, processo formativo de sete meses com base no compartilhamento das experiências do Nóis, em diálogo com conceitos da Pedagogia das Encruzilhadas (Rufino), Pedagoginga (Alan da Rosa) e Escrevivências (Conceição Evaristo).
“O curso propõe seis meses de um percurso formativo imerso em experiências partilhadas pelas artistas/pesquisadoras do Nóis, em conjunto com artistas/pesquisadoras(es) convidades do estado que vem discutindo o teatro e a cidade em uma perspectiva de ocupação e resistência de corpos pretes, mulheres, LGBTQIAP+ e periféricos”, acrescenta Gonzaga.
O primeiro espetáculo apresentado pelos alunos da escola foi “O que acontece quando os muros caem”, em julho de 2023. Foram cinco apresentações que giraram por diferentes territórios de Fortaleza. Uma nova turma foi selecionada ao final de 2023 e o projeto terá sequência em 2024.
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A Escola de Teatros Periféricos conta com financiamento da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Porém, destaca o coordenador do projeto, a falta de investimentos é atualmente o maior obstáculo para a sequência do Nóis de Teatro como um todo. “Somos um coletivo de artistas que, assim como vários outros, não tem um financiamento continuado para seguir com as suas atividades. A nossa única ferramenta de acesso a recurso tem sido os editais públicos, mas que não dão conta de ações continuadas, por isso, temos que ter uma produção grande na elaboração de projetos, pois a cada 10 projetos que escrevemos conseguimos aprovar um e isso fragiliza muito a continuidade das ações.”