No Ceará, o tempo foi compositor de um destino bonito para o casal lésbico Fernanda Skarllath e Virgínia Sandra Alves. Com o sonho da maternidade latente, elas se tornaram recentemente mães de três crianças, em realização proporcionada por adoção tardia. A família agora é grande e muito, muito feliz.
Em 2021, juntas há sete anos, cinco dos quais casadas, elas deram entrada na documentação para serem inseridas no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Isso aconteceu no ano seguinte, após cumpridas as avaliações de psicólogos e assistentes sociais. A princípio, até cogitaram a adoção de recém-nascidos. Contudo, o processo de formação exigido por lei e o contato com outras famílias fez Fernanda e Virgínia repensarem as prioridades. E elas decidiram sair em busca de adoções tardias.
Ou seja: mudaram o foco para crianças de idade mais avançada. “As pessoas romantizam muito a maternidade. Querem recém-nascido porque acham que, quando essa criança crescer, vai ficar parecida com elas. Mas isso não existe. A gente sinalizou que queria recém-nascido porque também romantizava. Mas percebemos que a prática é diferente. A maternidade dá trabalho e é cansativa. Alterar o perfil que a gente queria adotar foi a melhor coisa que a gente fez”, avalia Fernanda.
Victor, Sandra e Hadassa, enfim, chegam
Menos de um ano depois disso, uma ligação do Sistema Nacional de Adoção (SNA) tornou o sonho real. Victor, Sandra e Hadassa surgiram na vida delas. Outras quatro famílias haviam manifestado interesse em adotar o trio. Mas foi bater o olho em fotos dos três para a certeza nascer no peito. Era 27 de julho de 2023 – “o dia que a bolsa estourou”, como brinca Fernanda -, e os irmãos deixariam dali a dois meses o abrigo público no qual estavam há três anos para morar com as novas mães. Eram os mais antigos do equipamento, os mais queridos também, e nasceriam do melhor dos afetos: o amor.
O primeiro encontro presencial aconteceu em 8 de agosto de 2023. No dia 20 de outubro seguinte, a Justiça concedeu a guarda provisória. E, em março deste ano, a guarda definitiva. “A gente não tem nem um ano ainda de convivência. Mas estamos certas de que tomamos a decisão correta de adotar os três. Porque quando você pega o processo e lê o histórico deles, você pensa que não são as mesmas crianças. Elas já mudaram muito! Evoluíram muito! Hoje, a gente não consegue imaginar a nossa maternidade sem ser com os três. Não dava pra ser só um”, pontua Virgínia.
Aos poucos, o projeto de família vai sendo construído. Metas? Nenhuma individual. Todas coletivas. Para cinco. Cinco, não. Oito. Os três cachorrinhos não ficam de fora. Afinal, também chegaram ao lar pela via da adoção e, muitas vezes, são a alegria da casa. Escola, reforço, escolinha de futebol, horário da merenda, dever de casa, a rotina se transforma dia a dia. E a casa num condomínio fechado numa periferia de Fortaleza abriga todas as vontades de uma família que se fez possível.