Quando a enchente no Rio Grande do Sul passar, cerca de 200 alunos da rede pública de São Jerônimo poderão sentir o cheiro de caderno novo no retorno aos estudos. Uma campanha criada pela professora Kedilen Dutra conseguiu arrecadar o valor necessário comprar cadernos, mochilas e outros itens para estudantes que perderam muito, mas mantêm a vontade de estudar. A iniciativa segue recebendo doações, através da plataforma Vakinha.
Professora de língua portuguesa no município, e por consequência com convívio diário com dezenas de jovens, Kedilen começou a fazer uma busca ativa pelos estudantes quando São Jerônimo, cidade próxima ao Rio Jacuí foi atingida pelas inundações. Abrigos, bairros, redes sociais, um trabalho maçante teve início e, nessa escuta, a professora ouviu dos alunos que, tanto quanto as casas, terem perdido as escolas e os materiais escolares foi um duro golpe. Um cenário que a tocou muito, visto que muitos estudantes não terão para onde voltar e nem mesmo o que vestir quando a enchente passar.
São, constantemente, migrantes climáticos e, muitos, vítimas do racismo ambiental. Apesar disso, esses alunos têm para si muito nítido o que lhe é de direito: a educação, a merenda escolar, a fabulação etc. Então, para mim, ficou muito evidente que a segunda referência que uma criança e um adolescente tem é a escola, são os professores; não é estranho que em um momento em que o lar lhe falte a escola seja abrigo e esteio; mas, no caso de São Jerônimo e de outras cidades do Rio Grande do Sul, infelizmente, a escola faltou também, reflete.
Foi daí que Kadilen tomou a iniciativa de criar a campanha para distribuir novos materiais aos alunos. A iniciativa se tornou um sucesso e, em 12 dias, foram doados R$ 5,6 mil, para ajudar cerca de 200 alunos não apenas de São Jerônimo, como também de cidades vizinhas. Cadernos, canetas, lápis, mochilas e outros utensílios poderão ser comprados com a ajuda de mais de 60 pessoas. “Poder trazer a esperança de que os estudantes poderão voltar a estudar com dignidade, com material, tênis, agasalho, me trouxe alguma força de mudança para seguir caminhando na educação – e, de preferência, sempre ao lado desses estudantes. Espero que as pessoas sigam doando, sigam separando materiais em bons estados etc para que, pelo menos, um sorriso e um abraço essa gurizada querida possa ter no seu dia a dia.
O problema, salienta a professora, “é que os materiais que encontramos na cidade começaram a rarear e a ficar caros demais, o que faz com que o alcance de mais pessoas seja improvável”. Dessa forma, ainda que já tenha batido a meta, a campanha seguirá aberta para quem quiser contribuir.
A educadora acredita, ainda, que o cenário encontrado, de estudantes priorizando salvar os materiais escolares a outros bens materiais é a prova de que a educação pública é composta por jovens interessados em aprender e contruir um futuro, para além dos estereótipos. “Nós precisamos acolher esses alunos com urgência e entender que o alunos da rede pública de ensino podem não ter bens materiais, mas tem vocação para ser gente, para ser humano que muitos de nós que trabalhamos com a educação ainda não temos – e, infelizmente, nem teremos.”
Contribua com a campanha de arrecadação de materiais escolares
É possível contribuir com a campanha com doações de qualquer valor através do link. Como a cidade de São Jerônimo passa por escassez de opções no mercado, é possível também fazer doações dos próprios materiais escolares. Para isso, basta entrar em contato com a professora Kedilen Dutra pelo Instagram.