Quando se faz parte de um grupo historicamente marginalizado, como é o caso das mulheres e das pessoas trans, é importante saber que não se está sozinho. Há 8 anos, o Instituto Mundo Aflora faz esse papel de acolhimento através da escuta sensível e posterior encaminhamento para oportunidades de trabalho. A iniciativa agora faz parte do projeto Vakinha ONGs, ecossistema criado pela plataforma de doações para aumentar o poder de arrecadação de organizações sem fins lucrativos brasileiras.
O Instituto Mundo Aflora trabalha desde 2016 com a reintegração eficaz de meninas cis e pessoas trans, de 12 a 24 anos, em medidas socioeducativas que estiveram ou estão cumprindo pena restritiva de liberdade. A atuação é baseada na promoção de cultura e paz através de três frentes: programas dentro dos centros femininos de internação com criação de vínculos e aumento de repertório, programa de pós medida para acompanhamento da saúde mental, fortalecimento da rede de apoio e oportunidades de estudos e trabalho; e advocacy e articulação de rede para incidência política pública e quebra de estigma em relação a esse público.
Desde a fundação, mais de 12 mil atendimentos foram feitos, com taxa zero de reincidência do programa de pós-medida de privação de liberdade. Em 2024, dentro e fora dos centros de medidas socioeducativas, 2.500 atendimentos já foram realizados. A diretora-executiva do projeto, Stella Ottengy, relata que os primeiros contatos costumam apontar a necessidade de um emprego, tendo em vista o preconceito que há contra pessoas acabaram de cumprir a pena. Entretanto, de acordo com ela, percebe-se que esse costuma ser apenas indício de um problema mais profundo.
“Existem várias outras necessidades e que inclusive, implicam no mundo do trabalho. Por exemplo, a garantia de direitos básicos, como alimentação; a saúde mental; o fortalecimento da rede de apoio e a educação, que são essenciais para sua sustentação e crescimento dentro das oportunidades que vão surgindo. No Instituto, trabalhamos esses diversos aspectos, de forma integral e personalizada promovendo a autonomia e poder de escolha de cada um para proporcionar uma reintegração eficaz.”
Dessa forma, ainda que semelhantes, cada história que passa pelo Mundo Aflora é única. Stella cita como uma das mais especiais a vez em que L. (nome fictício), diante da urgência de prover o sustento da família, se envolveu com o tráfico de drogas e, posteriormente, foi encaminhado à Fundação Casa. Foi lá que teve contato com a ONG e, a partir daí, percebeu a existência de outras possibilidades. “Ao sair, ele continuou próximo do Instituto e se envolveu nas oportunidades que foram surgindo, como ser jovem aprendiz no Google e dar palestras sobre sua experiência. Hoje em dia, ele empreende como barbeiro e também atua dentro do Instituto para tornar os projetos cada vez mais próximos à realidade das jovens e ajudar pessoas que estão em uma situação em que ele já esteve.”
Contribua com o Mundo Aflora
Em três semanas, a campanha criada para o Instituto Mundo Aflora no Vakinha já arrecadou R$ 12,5 mil, através de 3.794 apoios. O valor é utilizado para bancar desde o transporte dos jovens para entrevistas de emprego, até cestas básicas, passando por pacotes de dados para estudar cursos online e frequentar atendimentos psicológicos. Qualquer valor pode ser doado através do link.